quarta-feira, outubro 12, 2005

Mais um ícone da música portuguesa - Graciano Saga!

Isto é fantástico! Ainda nem me recompus de ouvir grandes êxitos de Marante, e eis que já parto para outra: afirmo sem hesitar que Graciano Saga corresponde a um dos grandes cantores portugueses!

Se há uma coisa que admiro em Graciano Saga, é a sua fantástica capacidade de escrever letras onde tudo termina mal. Ou seja, não há música sua onde não morram, pelo menos, duas pessoas (a média de mortes por música de Graciano Saga é de 2.16).

Peguemos nesse ícone da música popular portuguesa, que creio já ocupar o Hall Of Fame da canção Lusa (ao lado de, por exemplo, "20 Anos" do mestre Cid), de nome Vem Devagar, Emigrante. Nela, Saga relata a triste história dum emigrante na Alemanha que, ao vir visitar Portugal para ver o seu paizinho doente, tem um trágico acidente em Espanha onde morre, não só ele, mas também a sua esposa e o seu rebento.

Alerto desde aqui que Graciano Saga tem o "dom" (eu chamo-lhe assim...) de relatar um episódio tristíssimo com a maior insensibilidade possível. Não só o tom de voz monocórdico (característica do cantor), mas as expressões que usa são tudo menos o que esperamos encontrar numa música de pesar, como esta deveria ser.

A música começa com um apelo do cantor ao civismo nas estradas, onde lembra o bonito e lamechas ditado "Mais vale um segundo na vida, que a vida num segundo". Quase que é comovente. Quase.

Depois, toca de relatar o incidente. Ele diz que o emigrante chegou do trabalho, fez a mala e pôs-se à viagem. E depois é só acelerar. Até que, perto de Espanha, com o sono já a apertar, despistou-se, e o "carro malvado" estampou-se.

A seguir, GS relata as intenções de ver e beijar o paizinho doente no hospital, o que levou ao emigrante a meter prego a fundo. Mas eis que perto de Benavente, o emigrante adormece e, reparem como a letra é sensível, "Num camião foi bater, e deu-se o choque frontal".

Só aqui é que ficamos a saber que a esposa e o filho também seguiam viagem e que "sem saberem de nada, morrem no caminho". Ou seja, o ouvinte está tão espantado quanto os próprios ocupantes do veículo. Fantástico.

E agora vem a piéce de resistance. No hospital, mal se soube da notícia, o pai doente fechou os olhos e - reparem bem nisto - também ele morreu.

Ou seja, em quatro minutos de música, obtemos umas formidáveis quatro mortes! O que dá uma morte por minuto. Fantástico, nem o Schwarzenneger no "Commando" consegue tal proeza.